Ele era só um colega de trabalho. Que a cada manhã abraçava as pessoas para um bom-dia e um beijo, fosse homem ou mulher. "Linda", era como ele se referia à mãe ao falar com ela por telefone. Não raro, se despedia dizendo "Eu te amo".
Gostar dele foi fácil. Em pouco tempo éramos amigos a trocar histórias. (E amigos sentem o amor mais bonito que se pode amar.) Um dia, depois de contar a ele algo que me entristecia, recebi um e-mail: "Eu amo você". Não era uma declaração romântica, eu sabia disso. Mas fiquei olhando para a tela, tentando disfarçar certo constrangimento.
Ele era casado, eu também. Meses depois, as coisas mudaram. Numa festa de trabalho, ele falou da paixão que sentia por mim. Eu já havia esquecido aquele e-mail — que era apenas uma prova da pessoa especial que ele era.
O primeiro "Eu te amo" era amor puro, sem sedução. O segundo, sim, tinha uma dose de paixão.
Ele me ensinou a falar de amor. Amor que esteve presente do início ao fim em uma história que teve curtos dois anos de duração – ou, dependendo do ponto de vista, uma história para sempre. É que antes de deixar esse mundo ele me deixou um filho. Um jeito definitivo de falar de amor.
Foi para esse filho que recitei o meu amor por seis ou oito vezes, ao sair da garagem outro dia, pela manhã, e ver sua cabecinha na janela para se despedir. Não me lembro de ouvir minha mãe gritando essa frase pra mim de onde quer que ela estivesse.
Venho de uma família amorosa, mas que costumava reservar as palavras de amor para cartas escritas em datas especiais — que líamos com lágrimas nos olhos e certa timidez. Faz pouco tempo que me permito falar rasgado.
Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos.
Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.
Certa vez, convivendo com a família do pai do meu filho, já sem a sua presença, ouvi da mãe dele um "Amo você." Hoje, digo a eles o mesmo. Falar de amor me transformou para sempre.
Com o tempo e os fatos, reparei que meus irmãos e amigos também aprenderam. Acho que a vida ensina, ao roubar de nós momentos e pessoas. Passamos a entender que o tempo não volta. É melhor ter a certeza de ter dito o que sentimos.
Quando decidi escrever sobre isso, cheguei em casa tarde e havia festa no prédio — meu humor piorou quando notei que o repertório era sertanejo. Não houve como não ouvir os convidados cantando "Amigos para sempre" em uníssono, provocando em mim uma alegria que me pegou de surpresa. “Devo estar ficando velha”, pensei.
É o contrário: finalmente estou jovem porque agora entendo.
Gostar dele foi fácil. Em pouco tempo éramos amigos a trocar histórias. (E amigos sentem o amor mais bonito que se pode amar.) Um dia, depois de contar a ele algo que me entristecia, recebi um e-mail: "Eu amo você". Não era uma declaração romântica, eu sabia disso. Mas fiquei olhando para a tela, tentando disfarçar certo constrangimento.
Ele era casado, eu também. Meses depois, as coisas mudaram. Numa festa de trabalho, ele falou da paixão que sentia por mim. Eu já havia esquecido aquele e-mail — que era apenas uma prova da pessoa especial que ele era.
O primeiro "Eu te amo" era amor puro, sem sedução. O segundo, sim, tinha uma dose de paixão.
Ele me ensinou a falar de amor. Amor que esteve presente do início ao fim em uma história que teve curtos dois anos de duração – ou, dependendo do ponto de vista, uma história para sempre. É que antes de deixar esse mundo ele me deixou um filho. Um jeito definitivo de falar de amor.
Foi para esse filho que recitei o meu amor por seis ou oito vezes, ao sair da garagem outro dia, pela manhã, e ver sua cabecinha na janela para se despedir. Não me lembro de ouvir minha mãe gritando essa frase pra mim de onde quer que ela estivesse.
Venho de uma família amorosa, mas que costumava reservar as palavras de amor para cartas escritas em datas especiais — que líamos com lágrimas nos olhos e certa timidez. Faz pouco tempo que me permito falar rasgado.
Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos.
Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.
Certa vez, convivendo com a família do pai do meu filho, já sem a sua presença, ouvi da mãe dele um "Amo você." Hoje, digo a eles o mesmo. Falar de amor me transformou para sempre.
Com o tempo e os fatos, reparei que meus irmãos e amigos também aprenderam. Acho que a vida ensina, ao roubar de nós momentos e pessoas. Passamos a entender que o tempo não volta. É melhor ter a certeza de ter dito o que sentimos.
Quando decidi escrever sobre isso, cheguei em casa tarde e havia festa no prédio — meu humor piorou quando notei que o repertório era sertanejo. Não houve como não ouvir os convidados cantando "Amigos para sempre" em uníssono, provocando em mim uma alegria que me pegou de surpresa. “Devo estar ficando velha”, pensei.
É o contrário: finalmente estou jovem porque agora entendo.