A vontade dele era morar nela. Ele, que por muito tempo se perdeu dos seus desejos. Ela, a quem ele não dava nome. Que só existia entre quatro paredes, num amor que inventaram de ser proibido. Ele, que já não contava mais com o amor. Ela, que de tanto amar já não se achava capaz. Ele queria morar nela, mesmo sabendo que naquele corpo não cabia. Ele, para quem mulher era carne, volume, volúpia. E ela era tão pequena, magrela, um menino-moleque. Naquele corpo de menino ele queria mãe. Naquele corpo de mãe, queria ser homem. Ele não se reconhecia nela. Mas só se achava ali. Nela. Ali ele fazia suas confissões. Do que lhe metia medo, das mentiras que a vida lhe fez, dos desejos que nem teve. E diante dela ele já nem sabia o que era verdade. Ele queria entrar ali dentro e nascer de novo: puro, diferente, autêntico. Ele queria adormecer nela. Mesmo que no dia seguinte saísse ao encontro de sua vida de sempre. Lugares, dinheiro, conquistas. Os amigos de longa data, que ele só sabia amigos por assim ter aprendido. Não sentia aquele bem-estar neles. Há muito ele vinha separado do seu bem-estar. Ele, que vivia para fora, robô de si mesmo, sem se perguntar se era mesmo por ali. Ele sempre voltava para ela. Ela, que a cada noite lhe contava uma história. E era sempre a história dele que contava. Como se lhe voltasse um espelho e, ali, ele se visse nu. Ele gostava de ouvir sua própria história. Mesmo saindo dali assustado e com medo, muitas vezes. Havia muitos e muitos anos que ele evitava o espelho. Mas o dia chegava ao fim e ele voltava. Para ouvir mais uma história. Para se ver mais um pouco. Havia naquelas histórias alguma coisa que o atraía. Algo que o intrigava. Algo de que ele vinha fugindo, que ele vinha desprezando, até que no caminho de fuga deparou com. Ele vinha fugindo da sua própria vida e, no caminho que tomou para evitá-la, a encontrou. Ela mesma lhe contou. Ela, que era invisível. Ela, que ninguém mais conhecia. A vida em volta continuava a mesma, embora ele sempre voltasse. Eram amigos. Disso, tinham certeza. Ele queria morar nela, mas tinha medo de ali ficar. Ela queria, sim, a sua presença. Ali, ele seria sempre bem-vindo. Mas o desejo dela não era o de engolir. Ela era pequena, a menor de todas, tão menor que ele. Mas ali ele permanecia noites inteiras, confortável, naquele canto exato e quente. Ela não o queria para si, embora o quisesse. Ela queria um filho com ele, como se precisasse fazer o amor virar carne, existir, ganhar o mundo. Queria que ele a quisesse tomar para si. Queria que ele sempre fosse bem-vindo, como queria ser bem-vinda sempre. De vez em quando ela também ia se hospedar nele, mesmo que por um tempo, com a certeza de que a casa nunca seria sua. Ela queria aquele amor macio e estranho, sem garantias de ser para sempre. Ela queria aquele amor de hoje. Queria amar com liberdade, embora desejasse o desejo de pertencer. Ela queria poder ser dele, mesmo não sendo. Queria um pedido de casamento para lhe dizer o mais amoroso não. Para então tomá-lo pela mão e desenharem juntos os caminhos a dois. Sempre cada um. Sempre de mãos dadas. Com a suavidade de não fazer tudo sempre igual. Ela queria a solidão dele, queria dividir com ele o seu sem rumo. Ela o queria quase toda noite. Queria cuidar dele enquanto ele estivesse hospedado nela. Queria hospedar-se nele também e, ali, naquele espaço de tempo, receber seus cuidados. Ela queria amar para sempre e para sempre ser amada, mas não buscava a promessa – não era ali que morava o para sempre. Ela também queria a falta dele, de que também era feito o amor por ele, o amor dele por ela. Ela o queria inteiro para si mesmo e tanto maior ao seu lado. Ela queria, não a promessa, mas a vontade. Ele queria, não a obrigação, mas a sorte. Eles queriam estar sempre começando de novo. Ela, que tinha uma história comprida, que vinha gastando no caminho. Ele, que há anos vinha arrastando o peso da sua. Muitas vezes ele pensava em desistir dela. E dela fugia. Mas era de si mesmo que ele fugia. Ele saía. Mas sempre voltava para casa.
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Bonito...
ResponderEliminare cheio de talento.
Você é boa mesmo com as palavras, conta a mesma história de tantas maneiras que agente até vê mais de uma. Ou o contrário.
o texto é lindo, a casa ainda não tem a sua cara... mais vai ter...se vai...
ResponderEliminarNossa! Parece q descreveu coisas q acontecem comigo... Perfeito! Acompanhando aqui! Beijos!
ResponderEliminarÀs vezes, sinto que vivo o mesmo. Obrigada por continuar nos brindando com lindas palavras. Bjs
ResponderEliminarCris como sempre vc arrasa... a cada linha me emociono sempre... Não deixe de escrever... Bjks Ariete
ResponderEliminarCris,
ResponderEliminarVc é tem uma escrita só sua, já lhe disseram isso? Passa dor sem vender lágrimas, passa amor sem ofertar beijos baratos, sabe ser assertiva e tem tudo para nao ficar em apenas um livro.
Bjos!
- Faz tempo que acompanho seus blogs e sempre tive vontade de ver um escrito seu além, algo como esse texto que é muito muito bom.
ResponderEliminarMas isso não é surpresa.
Falar de si é bem mais trabalhoso, e isso já sabemos que você faz muito bem!
Não pare, não pare nunca de escrever.
Senão a alma não se externiza, senão a alma enfraquece...
Cris, você é perfeita com as palavras. Não deixe nunca de escrever, pois isso seria, para nós leitores, uma perda imensurável.
ResponderEliminarParabéns pelo talento de sempre.
Cris, sua linhas são sempre uma prazerosa leitura! PARABÉNS.
ResponderEliminarEMOCIONANTE!!!Parabéns pelo novo blog...tenho certeza que será um sucesso ...Energias positivas!!
ResponderEliminarPor muitas vezes eu tive vontade de morar em alguém. Por muitas vezes eu morei em alguém, e alguém morou em mim. Hoje não moro em ninguém. E morar em ninguém é chato. Um porre! E mais chato ainda é "procurar" alguém para morar, da mesma forma que se procura um apartamento para alugar.
ResponderEliminarUm beijo,
L.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarLindo demais.
ResponderEliminarMe traz muitas lembranças bonitas...um aperto bom no peito. De lembrar que tudo sempre vale a pena...
beijos e parabéns pela nova empreitada!
É sempre forte, transbordando. Me atinge, eu gosto muito!
ResponderEliminarverdade. é sempre muito forte.
ResponderEliminare me atinge.
de uma forma transbordante.
parabéns pelo novo blog
Incrível!
ResponderEliminarSua escrita transparece sua delicadeza. É amor puro, tocante como sempre!
Parabéns e sucesso com o novo espaço! Com certeza acompanharei...
Beijos,
Pri
Que lindo!
ResponderEliminarlindo, lindo!
ResponderEliminarum beijo
.
Cris,
ResponderEliminarDe lá prá cá, e ponto.
Porque adoro sua escrita.
Porque acredito demais nesse seu amor bonito.
Beijo,
Solange
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com
Você é simplesmente d+++++++++, fico feliz pois é mais um blog pra acompanhar...
ResponderEliminarBjs Cris
eee adorei! bj
ResponderEliminarambos têem compromissos.
ResponderEliminarela, pequena, com a vida, com o viver, com o crescer, com o amor, com o se dar.
ela, que conhecia a felicidade, a completudide, embora o medo rondesse nunca havia desistido de tentar, de acreditar, de se dar, de novo.
ele compromisso com a vida. com compromissos da vida. com a responsbilidade. com o medo. e não se perdoa, desistiu de acreditar que é possível se ter o que quer, embora nem sempre seja possível se ter tudo. compromisso com a culpa.
se dar é um dom. se perdoar é uma arte.
e a felicidade não precisa vir em pedacinhos e em momentos. pode ser o todo e coexistir com momentos de dor e tristeza. mas a felicidade pode ser plena.
o drama vicia. é fato. as coisas podem ser mais simples.
(me senti com vontade de participar da história, fiz uma versão... mergulhei e continuei na minha cabeça o enredo, foi assim que me tocou, foi assim que entendi, desculpa qualquer coisa aí)
oi cris,
ResponderEliminareu gosto tanto de escrever
e vendo sua coragem, me faz sentir
vontade de um blog tambem
bjim
me arrepiei inteira.
ResponderEliminaradorei o txt e o novo (?) blog !
ResponderEliminarjá está no meu reader!
bisous!
Lindo. Sorte para o novo blog :*
ResponderEliminarAmei e ponto!
ResponderEliminarQuando será o próximo capítulo? Tá me cheirando livro novo...rs ;) Sorte sempre Cris, que Deus proteja seus caminhos e lhe inspire sempre a escrever pra gente! Chris.
ResponderEliminarBelas palavras!!!!
ResponderEliminarÉ a primeira vez que visito seu blog, fiquei encantada com o post.É indispensável ao ser humano ter um lugar de pouso,um refúgio,um porto seguro...você sabe transmitir isso de uma maneira muito bela.Voltarei aqui mais vezes.bjs
(http://www.artesmil.blogger.com.br)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarvislumbro para daqui a pouco um livro novo!
ResponderEliminarsabe quando a gente sente o cheiro?
eu senti.
um beijo, minha linda!
Lindo, pequena, lindo.
ResponderEliminarComo tudo que vc escreve.
Parabéns pelo texto...
ResponderEliminarPode saber que serei uma fiel seguidora!!!Adoro os teus blogs.
coisa mais linda! seus textos são emocionantes.
ResponderEliminarCris, lindo o seu texto. Ser amado é como ser aceito em uma poesia.
ResponderEliminarMe sinto assim quando te leio...
beijos
Nossa adorei o novo blog!!
ResponderEliminarme identifiquei com muitas de suas frases neste texto,muito obrigado por nos permitir ter essa sensação.
Continue postando por favor.
bjos!
tão lindo...
ResponderEliminar"Tudo que ela toca vira ouro"
ResponderEliminarquando vejo as coisas que você produz e forma como se produz penso: a minha virada só começou.talvez vc não entenda, mas entrei num processo de virar a mesa há mais ou menos um ano e meio.No início doeu e às vez dói ainda.Mas, ver as coisas que vc faz é como dizer para mim mesma:você também pode continuar a virar a mesa,você vai conseguir.
ResponderEliminarMe perdoe às vezes que invadi teu espaço com e-mails, mas me senti um tempo perdida e vc foi um tipo de referência.Agora estou me encontrando.De qualquer forma você fez parte desse processo no início quando tudo estava dolorido demais.Ainda te admiro com os pés no chão, mas continuo achando você uma pessoa que vale a pena olhar com respeito.abraços siga em frente,D'US te abençoe,AL
Tão familiar essa história, tão fácil de me encontrar ^^
ResponderEliminarUma belezura, Cris!
ResponderEliminarUm ponto, várias vírgulas, interrogações e exclamações: esse blog vai longe! Bjo
ResponderEliminarLindo. Continue. Beijo
ResponderEliminar"Si quieres un poco de mí,
ResponderEliminarme deberías esperar.
Y caminar a paso lento,
muy lento
y poco a poco olvidar,
el tiempo y su velocidad
frenar el ritmo, ir muy lento, más lento.
Si me hablas de amor
si suavizas mi vida
no estaré mas tiempo
sin saber que siento" (Uma canção de Julieta Venegas)
Amei o blog(o outro também).Você é muito habilidosa com as palavras.Parabens!
ResponderEliminarEstou seguindo os dois blogs.Beijos!!
Amei e ponto!
ResponderEliminarbjos meus
LINDO BLOG
ResponderEliminarvc arrasa com sua escrita...
parabéns
Aqui vou eu de novo... me encantar novamente! Parabéns!!!
ResponderEliminarSimplesmente... Lindo!!!
ResponderEliminarApaixonante!
ResponderEliminarOi Cris,
ResponderEliminarComecei a te acompanhar há pouco tempo, mais precisamente depois de ver uma matéria a seu respeito no Correio Braziliense. Adorei... Adoro... Quando quero acalmar, tranquilizar, para um pouco os meus dias estressados, venho até aqui.
Parabéns e obrigada por proporcionar momentos mais... calorosos no meu dia.
Bj
Roberta Marques
(Brasília - DF)
Olá, Cris... Acompanho seus Blogs a pouco tempo... Mas, amei este texto!!! Também gosto de escrever sobre mim. Mas, suas palavras são únicas como você!!! Obrigada por ter vestido em mim as suas palavras!!!
ResponderEliminarAmei.
ResponderEliminarParabens pelo texto, me faz lembrar uma musica de infancia...
ResponderEliminar"era uma casa, muito engraçada...rsss"
um pouco...
bj e abraços
julio
Mto lindo seu blog, mta sensibilidade, é legal fazer a leitura dos seus pensamentos. Convido-lhe a me acompanhar, tb gosto de escrever nesta mesma linha, espero por vc, um bjo de PAZZZ.
ResponderEliminarMuito difícil por ser muito original. E como dizia o poeta quintana: "alcançar a perfeição?! Quanta audácia! A autenticidade é muito mais difícil." Me senti no direito de tornar-me um seguidor...
ResponderEliminarDesde que vi o link no para francisco venho aqui ler e reler esse texto...o descobri no dia em que você postou mesmo...
ResponderEliminarele fala, grita de tal forma em mim.
Sinto isso daqui.
Penso se falo para o meu ele que ele é o ele que eu vi nesse texto.
Mas penso que não sou mais essa ela.
Você pareca sempre ser!
Não sei se se parabeniza alguém por ser mais, por sentir mais, de verdade.
Então... em anexo ao comentário seguem meus desejos de boa vida e boas energias!
Um grande bjo!
Você é maravilhosa!
ResponderEliminarNem sei o que comentar aqui, obrigada por este texto!
Mais sucesso pra você e que Deus continue iluminando seu caminho!
Um beijo
Brilhante. Fascinante. Prende nossa atenção do começo ao fim. Instiga a ir além. Talento. Parabéns!
ResponderEliminarCris, suas palavras sempre me servem de inspiração. Nem que seja apenas para desejar escrever com tão belas palavras.
ResponderEliminarMas este texto tocou um canto de mim que nem eu mesma andava entendendo. Um amor que vivo há algum tempo, mas que vive se perdendo.
Ele por medo de se cortar novamente, eu por não acreditar mais em amar incondicionalmente.
Espero que um dia conseguir que nós dois voltemos pra casa.
Obrigado como sempre.
Lindas palavras! As vezes sinto que ocorre o mesmo comigo.
ResponderEliminarDescreveste em palavras o que ocorre comigo!
ResponderEliminarBelíssimo blog. Aqui tens uma visitante frequente.
ResponderEliminarNuma tarde amarela eu voava feliz, feliz pelos campos, feito borboleta que era, pousava em você a flor mais bela.
ResponderEliminarwiva.
Existe uma luz no fim do tunel, mas não se esqueça de acende-la alguem pode seguir o seu exemplo.
ResponderEliminarExistem pedras no caminho de todas as pessoas, o mundo sera melhor, se menos criaturas demaziado humanas sairem feridas é claro, se você fizer a sua parte.
wiva.
você é demais,moça.Demais!
ResponderEliminarSeu nome te diz.Guerreira!
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