quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Eu odeio:

ar-condicionado, reforma ortográfica e sutiãs.
Embora todos eles, em algum momento, sejam necessários.
E ponto final.

Adoro ponto final.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Colheita

Eu procurava o amor em jardins de cactus. Vinha buscando o fruto em árvores erradas, e nas mordidas sentia o gosto azedo, que amarga no fim da boca. Colhi amores podres, comidos pelo tempo e dor.

Foi preciso paciência – e um outro tempo – amadurecendo um fruto para colhê-lo doce, suave, terno e delicado. Simples como naturalmente é.

Eu imaginava haver segredos por trás dos espinhos. Mas é puro acaso que amores e espinhos se encontrem em botões abertos ou fechados. A rima entre amor e dor é armadilha.

O verdadeiro fruto está ao alcance das mãos – mas é tão rasteiro, que quase não se vê. É preciso passear sem fome para enxergá-lo redondo, vermelho. Para então mordê-lo distraído como numa tarde de chuva.

sábado, 27 de agosto de 2011

História de amor com i.

O desempenho do time dele – que é adversário do dela. Os jogadores que são destaque do campeonato. A pontuação dele no Cartola. Quanto ele ganhou ou perdeu no pôquer. O preço da cerveja. Tudo ficou relevante e divertido. Um detalhe bobo do cotidiano dela que vira assunto pra ele. O supermercado que vira programa divertido ao lado dele. E de repente tudo se torna simples. Até as linhas, que por menos densas soam bobas de felicidade. Finalmente eles se encontraram. E ela há de reaprender a escrever na alegria.

domingo, 17 de julho de 2011

Surpresa.

Aquele quadro na parede não fazia mais sentido, foi o que eu pensei ao tirá-lo de lá. Antes de embrulhá-lo com papel de seda e carinho (minha saída para não alimentar o rancor em mim), fui pega de surpresa por sua letra no verso:

"Para Cris, com carinho e muito amor, D."

O quadro voltou pra parede e o rancor se assentou de novo – agora acompanhado de uma vontade de chorar sem fim.

domingo, 10 de julho de 2011

Não sei

Não sei se foi Platão ou minha mãe que me ensinou a ser metade incompleta. Sei apenas que sou (ou quase sou, por ser metade). Como se sozinha eu não fosse inteira, precisando sempre ser dois. Aprendi por inteiro a ser essa metade – e agora não sei desaprender. Meio feliz. Meio completa. No meio do caminho. E o meio que resta é pra ir – não tem volta.

sábado, 9 de julho de 2011

Vida real.

Adormeci enfiada na sua camiseta. Talvez pra me dizer que sinto falta da sua alegria em mim. Das vezes em que ela me frequentou. Da sua boca perfeita que ao sorrir convidava os olhos, apagando a dureza do resto. E ao acordar e me ver com sua malha de camisola em mim, lamentei o que não nos veste mais. Quis arrancar da nossa história o absurdo das coisas. Mudei o criado-mudo de lugar na tentativa de alterar um desfecho. Dormi enfiada na sua camiseta como se amanhã pudesse ser de fato outro dia. Mas foi na cama vazia e leve que acordei. O silêncio ecoando fúria. Enfiada em sua blusa. Triste, sim. Mas livre. Sem você. Sem o medo.

domingo, 3 de julho de 2011

Definitivamente

A vida não é para os apressados.

domingo, 29 de maio de 2011

Águas



Foi em março de 2007 que conheci esta versão da famosa música do Jobim – você estava prestes a nascer. Ouvi-la, hoje, é sentir no rosto de novo a brisa delicada de uma calma triste. Uma calma que me falava sobre o que não podia ser mudado e sobre as revoluções que me aguardavam por trás do que não podia ser mudado. Da delicadeza de um novo momento, mesmo que soasse violento em sua muda chegada.

As águas de março eram o fim do caminho e, da viagem seguinte, você era o começo.

Novos amores se anunciavam como flores, a começar pelo seu. Novos ares. Alguns desejados, outros não, revelando que a vida é quem faz as escolhas, por mais que nos dê outra ilusão. Ela nos brinca e em suas mãos somos criança. Entre uma brincadeira e outra, vem a morte para nos ensinar tanto a urgência como a calma resignação.

E é no jogo bobo e repetido que vai se revelando: o que passa, o que vem para ficar, o que é só caminho, o que é lugar para morar.

O tempo avança e luto para conquistar finalmente a calma. Penso que a conheço, mas ela me foge invisível. Em minha pressa de fazer sozinha, como se eternamente eu não vá ter com quem contar, me vejo a cada dia mais veloz, elétrica, acelerada. O que ontem sequer existia me invade e amanhece urgente, imprescindível, essencial.

Em minha ânsia de viver, esqueço de respirar. E o que é pior: sufoco também.

Você é tão parecido comigo, filho. A paciência que lhe peço é a paciência que não tenho. Por tantas vezes a vida me parece gritar pedindo que eu espere. Que eu espere, porque já vem. Mas não consigo.

Escrever é meu respiro, é quando tomo o ar para novos vôos – por mais rápido que voe, o avião parece flutuar entre as nuvens, essa ilusão de tempo e de espaço que nos dá a dica: a vida é tal e qual.

A vida é provocação. Se um dia me grita que é curta, manda em seguida a mensagem de que é preciso saber esperar. Avança e recua, oferece e retira, para nos medir, não a força, mas a capacidade de brincar.

E como você ao repetir mil vezes um mecanismo novo que acaba de descobrir, o tempo oferece meditação. É assim o seu jogo, com enigmas que mais rápido nos devoram se os tentamos engolir.

Não importa o quão irritante isso tudo me pareça. Nada vai mudar o fato de que não se toca o tempo com a mão. Não posso empurrá-lo ou puxá-lo, ele não vai nem vem, não pode que lhe sejam.

Admito, tenho pressa. Mas é pressa de chegar em casa e finalmente descansar. Pressa de ter calma. Pressa e sempre inimiga. É que nessa correria feia, por mais vezes me perco no caminho, sem conseguir chegar.

Em minha tentativa de lhe apresentar a serenidade, descubro que você é que veio me ensinar. O tempo, em seu ritmo criança, nos faz todo dia o mesmo convite a viver delicadas repetições e, assim, sorver a essência sutil do que não é feito.

Espero que eu, sempre tão rápida, não aprenda tarde demais.

(escrito para o Francisco em janeiro de 2009, mas, como a vida vai em ciclos, igualmente adequado para o dia de hoje)

domingo, 22 de maio de 2011

A verdade.

Chega de interpretar.
As pessoas são suas atitudes.
E ponto final.

Mentiras.

Você não me sentia ao seu lado,
por mais que eu estivesse.

Eu sentia você ao meu lado – e agora vejo que não estava.

Dois sentimentos mentirosos.
O silêncio.
E o fim.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Assombro.

O amor assusta porque ao nascer já anuncia: posso acabar. Pior: o amor do outro pode acabar. Ou nada disso: pode a vida e o dia e as horas serem mais fortes que qualquer impulso, e o que era um-mais-um torna-se um a um. E o que resta é cada um levando como pode o que pulsa em si.

O amor é ter a perder.

Ou não ter nada. É tudo e todo o medo e todos os perigos. Ou nada e paz. Ou nada.

O amor que nasce é assustadoramente amor. O amor que segue sozinho é assustadoramente só. Não há meio-termo porque o que o amor quer é coragem, o amor quer entrega, o amor sempre quer. Nem sempre é harmonia, nem sempre delicadeza. Mas sempre amor. Até não mais. E isso demora.

É maior que nós, o amor. Faz sombra e assusta. Até que se veja dele o seu verdadeiro tamanho. A sombra do amor assusta. Até que se entenda que ela é sombra e só.

O amor nos pede a escolha: ser do tamanho do medo ou da coragem.


domingo, 15 de maio de 2011

Mudo.

Todo amor tem alguma trilha sonora. Mas o nosso não tinha. E eu não suportaria esse silêncio por muito tempo. Quem sabe você aprenda a cantar ao longo do tempo. (Eu é que não vou calar os meus ouvidos.) A vida é nota musical - mas é preciso ter ouvidos sensíveis para escutar.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma vez.

Morrer uma vez.
Deixar que a dor te mate para depois nascer de novo.

Taí uma coisa importante na vida.

sexta-feira, 25 de março de 2011

!!!

Sou uma pessoa exclamação.

terça-feira, 1 de março de 2011

Madura.

Eu desejo os frutos das árvores,
os redondos e vermelhos.
E o que desejo, sinto.

Já tive minha árvore.
Sou a vermelhidão do fruto
e ainda tenho a pele macia.

Mas eu desejo os frutos das árvores,
os redondos e vermelhos.
E o que desejo, sou.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Miniconto.

Da primeira vez que eu morri, não gostei.
Não morro de novo nem morto.