terça-feira, 16 de novembro de 2010
Ofegante.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Confissão.
Quero vestir o seu abraço e sair com ele por aí, como um colete à prova de balas. Abraço longo, apertado, quente. Quero mais, me abrace mais. Mais um pouquinho. Vai sempre faltar abraço pra minha sede dele.
Sei que dentro de você moram sorrisos. Alguns você deixa escapar, os outros esconde no escuro, pra eu procurar. E eu gosto do jogo.
Gosto também das suas mãos nas minhas, das suas mãos tomando conta de mim. Não quero viver sem suas mãos por perto. Não sei aprender isso. É que esse meu amor inédito parece que nasceu junto comigo.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Sim.
Eu já sonhei ser modelo. Depois atriz. Depois cantora. Qualquer coisa que me colocasse num palco. Sim, fiz curso de modelo, depois curso de TV, depois aula de canto. Mas tudo isso durou pouco.
Não fui atrás de nenhum desses sonhos. Fui escrever sobre tudo isso e virei redatora de anúncio. Nisso, persisti.
Não persisti nos meus outros sonhos porque me escondi atrás do meu nariz torto, dos meus dentes imperfeitos, das minhas pernas finas, do meu cabelo ondulado, da minha voz aguda e da minha língua presa. Sim, tudo isso ainda faz parte de mim. Não fiz plástica, não usei aparelho, não coloquei silicone, não fiz musculação, nem escova progressiva, nem fonoaudiologia. Mais tarde, a essas imperfeições vieram se juntar varizes, estrias, celulite, olheiras, cabelos brancos e uma barriguinha.
Sim, eu tenho um filho. O que reforça as olheiras. Mas nesse contexto elas perdem por completo a sua importância.
Sim, eu tenho 37 anos.
Não, eu não uso maquiagem. Talvez porque ao longo do tempo eu tenha aprendido a me aceitar assim, quase exatamente como sou. Talvez porque eu me ache, hoje, mais bonita do que realmente sou. Talvez porque eu não fique esperando a opinião do outro para me sentir assim. Quando eu me olho no espelho, fico feliz no papel de mim mesma.
Sim, eu gosto de aparecer. Isso me diverte e me faz levar a vida menos a sério.
Não, atualmente eu não pratico esportes. Porque sou preguiçosa também.
Sim, eu tenho muitas roupas. Sou consumidora compulsiva. Ainda estou me curando. Lentamente, que é como as verdadeiras curas funcionam. E a cura está em expor meus exageros, transformando o vício em uma coisa boa. Sim, eu já gastei demais, já me endividei, já sofri por isso. Já me culpei. Depois descobri que me culpar só me faria insistir no vício. Sim, eu me perdoei.
Sim, eu já sofri por amor. Muitas vezes. Já fiz sofrer também. E já perdi mãe, pai, avós, filhos no início da gestação. Sim, eu já me separei. E foi bom. Sim, depois disso encontrei o amor da minha vida e o perdi de um dia para o outro. Não, não foi fácil. Mas reencontrei a alegria. Não morri com ele.
Sim, eu só tenho a agradecer. Porque amei e fui amada. Porque temos um filho que ao sorrir me mostra que valeu a pena. Sim, faltaram algumas coisas – mostrar Paris para ele, por exemplo. Faltou ele conhecer o próprio filho. Mas sobrou amor. E não faltou dizer nada. Nem ouvir.
Já vivi muitas coisas. E não me canso de me surpreender com a vida. Sim, para melhor.
Sim, eu me sinto sozinha. Mas não me assusto mais com isso. Tenho me achado ótima companhia.
Sim, eu me orgulho. Não das minhas perdas, mas da maneira como lido com elas. E de estar completando 24 anos de auto-análise. Desde os 13 escrevo sobre a minha dificuldade de estar no mundo. Tanto tempo, que foi ficando fácil. Já fiz as pazes comigo e com o mundo.
Sim, eu sou a filha mais nova de uma família de cinco. E fui mimada. E já fui insuportável. Não, eu não era ouvida. Eu me sentia abandonada. Só falava em tom de choro. Sim, eu me sentia feia. Sim, eu cortei os cabelos pela primeira vez aos 19 anos e nunca mais deixei crescer. Porque isso me libertou. Sim, foi uma alegria descobrir que a beleza estava dentro de mim, e não nos cabelos.
Sim, eu me tatuei 29 vezes. Isso também me liberta e me ajuda a levar a vida de um jeito mais leve.
Sim, eu gosto de me vestir bem. E demorei muito tempo para entender que isso era prioridade pra mim.
Sim, eu gosto de moda. Não a moda ditada pelo último São Paulo Fashion Week. Gosto de moda na coleção que eu mesma lanço ao fazer minhas escolhas. Gosto do desfile que começa a cada dia na hora de me vestir. Sim, essa é a minha forma de fazer moda.
Sim, eu poso de modelo. E me mostro, sem medo. Não, as fotos não têm retoque de photoshop. E eu não tenho uma equipe para me vestir nem para me maquiar. Sim, tenho amigos talentosos que topam a minha viagem todos os dias. Sim, tenho sorte.
Sim, eu gosto de aparecer. E adoro elogios. Eles fazem do outro o meu espelho e isso é muito bonito. Sei elogiar também. E sempre que o faço, é sincero.
Sim, estou em lua de mel com a modelo que existe em mim. Que tem olheiras, varizes, cabelos brancos e nenhuma maquiagem. Sim, estou em lua de mel também com a escritora que existe em mim.
Sim, eu convivo diariamente com uma ou outra frustração. E nenhuma é grande o suficiente para me fazer infeliz. Sim, eu vejo pessoas à minha volta. E muitas delas sofrem também. E a gente troca.
Sim, de vez em quando sinto inveja. Mas quando isso acontece, procuro a saída mais bem-humorada. Sim, é muito bom quando você consegue dar ao outro apenas o melhor que está em você.
Sim, eu ouço som bem alto no carro. Coloco os óculos escuros e canto a caminho do trabalho. Sim, hoje atraio olhares. Nem todos são bons. Mas aprendi a lidar com isso.
Sou triste e sou alegre. Sim, sou eu.
Sim, eu sou mulher. E sou modelo, atriz, cantora. Trabalho num lugar onde posso exercer tudo isso. Construí meu próprio palco.
Sim, eu me acho poderosa. Mesmo porque, é comigo que posso contar. Sim, em alguns momentos percebo que a imagem que involuntariamente construí é diferente de mim. Mas é parecida também. E eu não tenho controle sobre isso.
Não, hoje não tem foto. Hoje vou assim. Vestida dos meus sins e dos meus nãos. Vestida de mim mesma. Praticamente nua. Livre de falsas identidades e convidando você a se libertar também.
(escrito em março de 2008 para o blog hoje vou assim)
sábado, 16 de outubro de 2010
De chão.
sábado, 21 de agosto de 2010
Sobre a falta de tempo que nos aproximou da gente.
E porque era preciso fazer as cartas chegarem mais rápido, construíam-se estradas. Estradas que nos levaram mais rápido ao futuro: encurtaram-se as distâncias.
E porque encurtaram-se as distâncias, aumentou o trabalho. E porque o trabalho aumentou, escasseou o tempo. E pela escassez de tempo, cessaram as cartas. E pela falta das cartas, recesso para o amor.
Porque o amor entrou em recesso, o avanço. E porque veio o avanço, criou-se a tal rede. E porque a rede se criou, encurtaram-se as distâncias. Até mesmo entre os amores. Até mesmo entre os tempos.
E no mundo contido dentro da rede, nasceram de novo as cartas. Agora instantâneas. Que, como aviõezinhos de papel, eram lançadas incessantemente de uma ponta a outra do mapa. Palavras, dores, saudades e sons percorriam num susto longas distâncias, para chegar aos ouvidos da outra ponta do mapa.
O mundo virou teia de cartas. Um emaranhado de dores e amores e gentes se vendo e ouvindo e dizendo em todas as línguas. Um mundo abraçando o mundo carente de cartas, caminhos, estradas e de andar a pé pra relembrar.
Virtuais, as cartas tornaram amores reais.
E a cada nova carta, um mundo de amor. A teia. E a cada novo mundo, mais cartas. E já não era possível desfazer os nós. E as pessoas deram-se as mãos, como antes não acontecia. E eram semelhantes as mãos que se davam, sem que a distância fosse empecilho. E era de mãos também a grande teia.
Mas, como o virtual brilhasse, o real perdeu sua força. Não mais se olharam as pessoas. O amor em recesso mais uma vez.
E como o recesso faz buracos, mais gente da ponta do mapa procurou gente da outra ponta. E do meio. E de um pedacinho ao sul ou ao norte. E as latitudes as mais diversas passaram a se olhar, como não mais os olhos se olhavam. E como as palavras de longe chegavam ao pé do ouvido, falou-se de perto. E porque de longe acendiam-se almas, encurtaram-se as distâncias.
Mas, um dia, de tanto viajarem as cartas, encurtando distâncias e mais distâncias, alguém olhou para o lado e descobriu a verdade.
O longe estava perto. O perto estava longe.
E assim a escassez de tempo nos aproximou da gente. A escassez do tempo nos disse verdades com sua voz rouca. E nos perguntamos se tudo isso fazia sentido. E choramos. E escrevemos novas cartas. E nos demos as mãos de verdade. E nos olhamos no olho. E redescobrimos o tempo.
E amamos. Não mais a escassez. Não mais o virtual. Não mais o longe.
E permanecem as cartas que vão e voltam. Mas o amor não entra mais em recesso.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
De um universo a outro.
Noite livre.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Um canteiro.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Um sopro.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
O ponto.
Eu não procurava um pouso porque já tinha o meu próprio – que pode não ser macio nem mágico, mas tem o meu cheiro. Eu procurava o que não sei. Procurava parar de procurar. E já vinha desacelerando a busca, numa desistência doce.
Era a paz que eu procurava. A paz que me sorri bem puro. A paz que não é tédio. Que dá colo pra descansar, mas também é capaz de surpreender e fazer o coração bater forte, a circulação aumentar, o corpo se sentir vivo. A paz que atormenta. Paz que é um ponto.
Que é chegar em casa sorrindo. Uma insônia boa. Certeza que não mata. Saudade que revela. Que é quando a imperfeição encontra lugar confortável em nós. É sentir no outro uma semelhança macia. Saber um pouco do que vai no outro, sem saber quem é o outro.
Estou apaixonada por uma tempestade suave em mim.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Amanhã, espero por você em BH.
terça-feira, 30 de março de 2010
A paz no colo.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Final feliz.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Quando aprendi a dizer eu te amo.
Gostar dele foi fácil. Em pouco tempo éramos amigos a trocar histórias. (E amigos sentem o amor mais bonito que se pode amar.) Um dia, depois de contar a ele algo que me entristecia, recebi um e-mail: "Eu amo você". Não era uma declaração romântica, eu sabia disso. Mas fiquei olhando para a tela, tentando disfarçar certo constrangimento.
Ele era casado, eu também. Meses depois, as coisas mudaram. Numa festa de trabalho, ele falou da paixão que sentia por mim. Eu já havia esquecido aquele e-mail — que era apenas uma prova da pessoa especial que ele era.
O primeiro "Eu te amo" era amor puro, sem sedução. O segundo, sim, tinha uma dose de paixão.
Ele me ensinou a falar de amor. Amor que esteve presente do início ao fim em uma história que teve curtos dois anos de duração – ou, dependendo do ponto de vista, uma história para sempre. É que antes de deixar esse mundo ele me deixou um filho. Um jeito definitivo de falar de amor.
Foi para esse filho que recitei o meu amor por seis ou oito vezes, ao sair da garagem outro dia, pela manhã, e ver sua cabecinha na janela para se despedir. Não me lembro de ouvir minha mãe gritando essa frase pra mim de onde quer que ela estivesse.
Venho de uma família amorosa, mas que costumava reservar as palavras de amor para cartas escritas em datas especiais — que líamos com lágrimas nos olhos e certa timidez. Faz pouco tempo que me permito falar rasgado.
Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê. Não para mandar com flores, mas pra fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos pra dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos.
Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.
Certa vez, convivendo com a família do pai do meu filho, já sem a sua presença, ouvi da mãe dele um "Amo você." Hoje, digo a eles o mesmo. Falar de amor me transformou para sempre.
Com o tempo e os fatos, reparei que meus irmãos e amigos também aprenderam. Acho que a vida ensina, ao roubar de nós momentos e pessoas. Passamos a entender que o tempo não volta. É melhor ter a certeza de ter dito o que sentimos.
Quando decidi escrever sobre isso, cheguei em casa tarde e havia festa no prédio — meu humor piorou quando notei que o repertório era sertanejo. Não houve como não ouvir os convidados cantando "Amigos para sempre" em uníssono, provocando em mim uma alegria que me pegou de surpresa. “Devo estar ficando velha”, pensei.
É o contrário: finalmente estou jovem porque agora entendo.